06 julho 2007

Domingo é o dia grande da Festa dos Tabuleiros


A festa dos mais pequenitos não defraudou a multidão que no passado domingo invadiu as ruas do centro histórico de Tomar.
Foi o «Cortejo dos rapazes» que reuniu perto de duas mil crianças das escolas e jardins-de-infância do concelho. Como gente grande, desfilaram transportando tabuleiros e, os mais pequeninos, cestas, todos cheios do colorido próprio desta festa centenária que, de quatro em quatro anos, enche de cor a cidade templária.
Tudo foi feito como se se tratasse do Cortejo dos Tabuleiros dos «adultos». As crianças levam os trajes de tradição: as meninas vestidas de branco com uma fita de cor à cintura e à tiracolo, sogra ou rodilha e transportam o tabuleiro que terá a sua altura e os rapazes trajam calça preta, cinta preta, barrete preto no ombro, camisa branca e gravata da cor da fita da menina.
Cortejo dos Tabuleiros
No próximo domingo é o dia do cortejo maior, aquele que leva a Tomar milhares de pessoas.
As palavras do historiador Manuel Guimarães, traduzem a emoção que percorre quem vai no Cortejo e quem assiste à sua passagem: «As raparigas, figuras principais, desfilam em duas longas filas ao lado dos seus ajudantes (os rapazes) que seguem do lado de dentro mas sempre atentos às companheiras. Dirigem-se à Praça da República onde o Cortejo enrola harmoniosamente até preencher sem sobressaltos a placa central. Um representante da Igreja vem à Praça, paramentado, dar a bênção aos Tabuleiros. Depois, a um sinal do sino, é a elevação, um momento inesquecível. Uma moldura humana impressionante aplaude comovida, este momento mágico, único, pela sua grandiosidade, simbolismo e beleza, único na nossa arte e na nossa cultura.»

Ruas engalanadas
Mas já na sexta-feira à noite, são abertas as ruas enfeitadas com milhões de flores de papel feias pelos seus moradores, procurando cada uma ser a mais bonita.
E se o dia grande da festa é no próximo domingo, a verdade é que a cidade está em festa há já muito tempo. Isto porque, em cada ano que esta se realiza, as cerimónias têm início no Domingo de Páscoa.
O Cortejo das Coroas é o primeiro acto solene da Festa dos Tabuleiros e destinava-se, antigamente, a anunciar à população a próxima celebração da sua Festa maior. No chamado terceiro ciclo da Festa (após 1950), O Cortejo sai da Misericórdia, fiel depositária do Pendão e Coroas da cidade de Tomar, dirige-se à Igreja de S. João Baptista ou Igreja de Santa Maria do Olival onde é celebrada a Missa Solene do Espírito Santo na presença das Coroas e dos Pendões que são colocados na capela-mor.
Terminada a Missa, o Primeiro cortejo das coroas percorre o itinerário do Cortejo dos Tabuleiros.
As saídas das coroas
Como é uma Festa religiosa há sete saídas de Coroas. 7 é o número perfeito a nível da Igreja Católica: 7 dias da semana; 7º dia é o da plenitude da caminhada (quando Deus descansou); 7 Dons do Espírito Santo; 7 domingos da Páscoa ao Pentecostes quando se celebra a plenitude da Vida Nova.
A primeira saída é no Domingo de Páscoa, a segunda no Domingo de Pascoela e as restantes de quinze em quinze dias até ao dia 24 de Junho, último Cortejo de Coroas antes da Festa dos Tabuleiros. O percurso das restantes saídas de Coroas é variável e tem sido adaptado ao crescimento da cidade pretendendo-se levar o anúncio da Festa à maioria dos habitantes.
As ruas estão decoradas com colchas coloridas nas janelas e o chão com verdura. À passagem do Cortejo o povo vai lançando flores criando assim um efeito de cor ímpar e o clima de alegria que se vive sempre em anos de Festa dos Tabuleiros.
A antecipar o Cortejo e bem à frente vai o fogueteiro anunciando a aproximação da procissão; em seguida vêm os gaiteiros e tamborileiros, a Banda, o Pendão do Espírito Santo, as três Coroas do Espírito Santo da cidade, as dezasseis Juntas de Freguesia representadas por um Pendão e por uma Coroa, os membros das diferentes Comissões e o povo.
Nas demais saídas vai havendo rotatividade entre as dezasseis Juntas de Freguesia que só se voltam a juntar no dia do Cortejo dos Tabuleiros.

Ofertas celebram colheitas
As origens da Festa dos Tabuleiros, não são consensuais, mas pensa-se que misturem rituais pagãos e religiosos. Pensa-se que as primeiras celebrações teriam sido dedicadas a Ceres, deusa romana das plantas e dos cereais e que simbolizava o amor maternal; os tabuleiros enfeitados com trigo, pão e flores silvestres apontam para a celebração das colheitas.
Na sua vertente religiosa, as festas estão, desde o século XIII, ligadas à rainha Santa Isabel que, segundo reza a lenda, transformou o pão que distribuía aos pobres, em rosas, quando o seu marido, D. Dinis, a mandou revelar o que transportava.

Cortejos Parciais
Para os que quiserem ver os tabuleiros que desfilarão no domingo, com mais calma e sem a multidão esperada, no sábado de manhã decorrem os chamados «Cortejos Parciais». A necessidade de reunir os Tabuleiros das diferentes freguesias para o Cortejo de Tabuleiros levou, a partir dos anos 50, à introdução de um elemento novo – um desfile em separado dos tabuleiros das diversas freguesias que partindo de um local previamente escolhido passam junto ao edifício dos Paços do Concelho onde são recebidos pelo Mordomo, Presidente da Câmara e Vereação dirigindo-se para a Mata Nacional dos Sete Montes onde ficam em exposição até ao Cortejo de domingo.
Os Cortejos Parciais decorrem amanhã, dia 7 de Julho. Iniciam-se pelas 10h00 da manhã, saindo do largo Cândido dos Reis, seguem pela Av. Marquês de Tomar, Rua Serpa Pinto (Corredoura), Pç. da República, R. Infantaria 12 (R. do cinema), Av. Cândido Madureira e Mata Nacional dos Sete Montes, onde ficam em exposição.

Jogos Populares
A inspiração vem de tempos recuados pois a Festa dos Tabuleiros era o grande acontecimento que atraía a Tomar a população das redondezas que se deslocava, como era habitual na época, a pé, de carroça ou sobre os muares.
A corrida de burros era a parte mais animada e interessante da festa. Em 1964, realizaram-se os primeiros Jogos Populares adaptando-se os jogos tradicionais inspirados no trabalho da nossa gente rural (corte de troncos a machado e corte de troncos a serrote).
Cada freguesia tem um representante em cada jogo, excepto no chinquilho (equipa), na gincana de burros (um rapaz e uma rapariga), na luta de tracção (equipa) e no corte de troncos a serrote (dois homens). Além destes jogos também se disputam a corrida de carroças, corrida de cântaros, subida de mastro, corrida de sacos, corrida de pipas, corrida de púcaros e corte de troncos a machado.
Os Jogos Populares realizam-se amanhã, 7 de Julho. O desfile dos participantes começa às 14h30 e a final é a partir das 15h00 no antigo Parque de campismo da cidade.

Bodo ou Pêza
Os bodos do Espírito Santo, (refeição sagrada), instituídos pela Rainha Santa Isabel que em Tomar, com a passagem dos anos se passaram a designar Pêza e é o último acto de cada Festa dos Tabuleiros. Acontece no dia a seguir ao Cortejo dos Tabuleiros (segunda-feira) e seguindo a tradição (porque os Dons de Deus - frutos da terra e dos rebanhos - carne, pão e vinho - são para todos), numa forma de agradecimento a Deus, consta da partilha do pão, da carne e do vinho agora só com os mais pequenos, os mais necessitados.
O Bodo ou Pêza decorre na manhã do dia 9 de Julho (segunda-feira).

Um fim-de-semana cheio
Para além de desporto, teatro, exposições e muita música, deixamos alguns destaques:
Hoje, sexta-feira, pelas 18h00 realiza-se o «cortejo do mordomo» cuja origem se perde no tempo. De início seria um hino à abundância simbolizada nos bois que iriam ser abatidos para o Bodo.
«Os Bois do Espírito Santo» como eram chamados, desfilavam perante o olhar da população sendo posteriormente abatidos e a carne distribuída a toda a população, ricos e pobres, em memória de um mundo novo e fraterno.
Desde 1966 que os bois já não são abatidos e a carne não é distribuída a todos passando a ser distribuída unicamente pelas famílias carenciadas. A carne é obtida junto dos proprietários dos talhos.
No entanto a tradição mantém-se: os bois são enfeitados com colares e brincos de flores desfilando pelas ruas da cidade ao som de foguetes, gaiteiros e banda de música. A acompanhar vão algumas charretes que transportam os Mordomos e convidados e vários cavaleiros.
Durante as três noites há arraias populares na Várzea Pequena.
Na noite de sábado actuam os Da Weasel, junto ao estádio municipal e à meia-noite há um espectáculo pirotécnico junto ao rio.

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