06 outubro 2006

Medieval: um ponto da situação



Em tempo de vindimas, quando o Medieval de Ourém dá os primeiros passos, Luís Sousa e André Gomes Pereira, da VitiOurém, falaram com o NO.
NO - Como está a decorrer a campanha deste ano?
- A campanha de 2006 fica marcada por uma quebra de 20 a 40% em volume de produção. Houve problemas com míldio e oídio para os agricultores menos atentos às variáveis meteorológicas e que descuraram os tratamentos na altura certa. As vagas de calor, que surgiram muito rapidamente e que atingiram valores muito elevados, desidrataram e "queimaram" muitos cachos. Por outro lado, a chuva que tem caído nas últimas semanas, poderá em alguns casos, diminuir a qualidade de alguns vinhos.
Em termos de qualidade, preferimos não dar importância ao grau do vinho, por não consideramos este como factor preponderante quando analisado isoladamente. Preferimos destacar o equilíbrio da maioria dos mostos nas suas várias componentes, como o açúcar, acidez ou matéria corante, entre outros, que irão sem dúvida, produzir muito bons vinhos.
NO - Já há muitos produtores a aderir às normas legais do Medieval?
- Neste momento existem cerca 23 vinhas cadastradas e 11 produtores inscritos na Comissão Vitivinícola Regional da Estremadura (CVRE) aptos à produção de vinhos com direito à utilização da designação "Medieval de Ourém". Da colheita de 2005 foram aprovados, pelas entidades competentes, 5 dos 9 vinhos propostos à câmara de provadores da CVRE.
No - Sei que alguns manifestaram essa vontade mas viram os seus vinhos reprovados sem lhes ser apontada a razão para tal. O que a VitiOurém está a fazer nesse sentido.
Para se produzir o vinho Medieval de Ourém não basta manifestar vontade de o fazer. É necessário estar inscrito nas entidades competentes e reguladoras do sector, como o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e a CVRE. O vinho tem de ser produzido a partir de uvas do nosso concelho e provenientes de vinhas devidamente cadastradas. As regras de vinificação estão também bem definidas em portaria e é necessário cumpri-las. Finalmente é necessário submeter o vinho à aprovação pela CVRE. Esta aprovação passa essencialmente pela análise química do vinho, para garantir que cumpre e respeita os valores estipulados em lei, e por uma prova organoléptica. Esta prova não é mais do que uma prova sensorial feita por uma câmara de provadores pertencente à CVRE, de forma anónima (prova cega), onde são apreciados e classificados vários pontos como o aspecto visual do vinho, os seus aromas e a forma como se comporta na boca. O Medieval de Ourém, como todos os vinhos de topo, só pode obter essa classificação se de facto forem vinhos de muito boa qualidade.
A câmara de provadores, da colheita de 2005, considerou que havia vinhos que não reuniam todas as condições necessárias à sua aprovação. Para diminuir o número de reprovações, a Vitiourém tentou identificar a origem desses problemas de forma a eliminá-los no futuro. A CVRE mostrou já uma abertura total para a explicação de algumas reprovações. A VitiOurém fará tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar os agricultores nas várias etapas do processo, desde a vinha ao vinho, passando pelos papeis, para que haja um maior número de vinhos Medieval no mercado.
NO - O que está ser feito, e onde, em termos de divulgação do Medieval?
No imediato e de forma conjunta foi já dado a conhecer o vinho a alguns restaurantes e garrafeiras. Note-se que não será a VitiOurém a comercializar os vinhos, terão de ser os produtores a "fechar" negócios. O trabalho da VitiOurém passa pela criação de pontes entre produtores e consumidores, desenvolvendo uma relação de proximidade e confiança. Neste sentido estão já a ser pensada no seio da direcção novas formas de promoção conjunta dos vinhos Medieval. Se pensarmos num horizonte mais alargado, está a ser trabalhada uma imagem a ser utilizada em conjunto, potenciando o bom relacionamento entre os produtores e os consumidores. Como a produção da colheita de 2005 foi reduzida não podemos planear grandes acções de promoção sob pena de não podermos satisfazer as encomendas.
NO - Quais os primeiros mercados alvo?
Será feita uma aposta em nichos de mercado conhecedores e que denotam interesse pelo produto em si. Normalmente pessoas informadas, com algum poder de compra, que preferem produtos verdadeiros e genuínos. As pequenas produções que se esperam nas próximas colheitas não permitirão ir muito para além dos mercados de Ourém, Lisboa e Porto. Foi com grande satisfação que tivemos conhecimento do interesse de bastantes imigrantes no vinho Medieval, aquando da sua visita nos meses de verão. Queriam saber se o vinho já estava em comercialização e onde o podiam adquirir. Pensamos que pequenos nichos no exterior, sobretudo em França, serão também uma possibilidade de comercialização dos vinhos Medieval de Ourém.
NO - Há alguma ideia de produção média deste vinho, na sua totalidade e da dos vinhos já aprovados?
No ano passado foram produzidos cerca de 8.000 litros de vinho candidato a denominação Medieval de Ourém. Foram aprovados cerca de 2.700 litros, resultando daí cerca de 3500 garrafas. Este ano, pelas informações que estamos a recolher, serão produzidos cerca de 10.000 litros candidatos a ostentarem no rótulo a menção Medieval de Ourém. Somente no final do processo de aprovações se saberá quantas garrafas da colheita de 2006 sairão para o mercado.
NO - Como é que a VitiOurém vê a nova empresa anunciada pelo presidente da Câmara?
- A VitiOurém considera positivas todas as boas medidas tomadas para a estruturação do sector no nosso concelho. Esperamos que a nova empresa seja de facto um benefício para os viticultores de Ourém e que tenha sucesso na venda dos vinhos feitos com uvas da nossa região.
NO - O que podem esperar dela os vitinivicultores?
A VitiOurém não pode responder a esta questão. Deverá ser a nova empresa a responder. Mesmo que tivéssemos acesso a toda a informação do que se passa, não poderíamos falar pela empresa. Só ela poderá falar sobre os projectos que tem para o futuro e quais os objectivos que quer atingirem.

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