07 dezembro 2005

Portugueses em França abraçam Ourém




Cinco mil portugueses num espectáculo de angariação de fundos a favor das vítimas dos incêndios em Ourém


"Plus jamais ça! – Pour qu’un vent d’espoir souffle enfim…"
Este o tema de uma iniciativa levada a cabo, no passado fim-de-semana, pelos emigrantes portugueses em França que num grande espectáculo de solidariedade, abraçaram Ourém. O ponto alto do evento aconteceu no sábado à noite, com um grande espectáculo de angariação de fundos para as vítimas dos incêndios deste ano, que juntou cerca de cinco mil pessoas, num pavilhão em Saint-Ouen, organizado pela Associação Cultural "Os portugueses de Saint-Ouen".
Três homens à frente de uma iniciativa a que se juntaram muitos outros: Manuel Lopes, de Rio de Couros, Dinis dos Santos que tem também raízes no concelho, em Espite e Alexandre Barreira, de Arcos de Valdevez, foram os motores desta grande festa que uniu os portugueses em Paris neste grande abraço ao concelho de Ourém.
Logo na sexta-feira, dia 2 tiveram lugar algumas realizações paralelas, com destaque para um jogo de futebol e recepções oficiais, numa iniciativa que o Notícias de Ourém acompanhou durante o sábado, dia do grande espectáculo. Destaque ainda para uma conta aberta no BCP, em França onde estão a ser aceites depósitos até amanhã.
O dia de sábado passado, em Paris, começou bem cedo, com uma recepção na Câmara de Saint-Ouen, onde o presidente da Câmara Oureense explicou à sua homóloga francesa o drama daqueles que este verão, no concelho de Ourém, perderam todos os seus bens. Explicou ainda que os apoios angariados se destinam à construção de 8 habitações de famílias mais necessitadas, de entre as doze que viram arder as suas casas.
Depois a comitiva dirigiu-se à rádio Alfa, onde, num programa de grande audiência passou a manhã a responder a questões sobre o espectáculo mas também sobre a situação vivida este Verão no concelho.
Tudo ao pormenor. Se a organização era amadora, a verdade é que o modo como as coisas correram deveriam fazer inveja a muitos profissionais.
A onda de solidariedade sentia-se no ar. Estavam todos envolvidos na mesma causa, motivados por um sentimento superior de dádiva. Por vezes, naturalmente, surgia a dúvida e algum temor sobre a resposta que iria ter a iniciativa sobretudo porque o espaço onde esta decorreria era imenso. Um enorme pavilhão que necessitaria muita gente para ficar cheio. Mas chegados aí, as dúvidas começaram a dissipar-se. O espectáculo tinha início marcado para as 22h30 mas às 20h30, aquando da abertura das portas, de imediato os lugares sentados começaram a encher e meia hora antes do início do espectáculo tinham esgotado. Segundo informação dos responsáveis da autarquia se Saint-Ouen, o pavilhão tinha capacidade para receber 3.600 a 3700 pessoas sentadas. Já decorria o espectáculo e continuava a chegar gente. No final estimava-se, face ao número de bilhetes vendidos acrescentados dos convidados, que ali teriam estado cerca de cinco mil pessoas com bilhetes a 10 euros cada.
Impressionante foi também ver que, com o avançar da noite, algum espaço ia ficando vago no centro do pavilhão e aí se formou um bailarico gigante ao som dos artistas que iam desfilando no palco e que também eles participavam neste abraço ao actuarem gratuitamente.
Destaque ainda para a apresentação, de excelência, por dois grandes profissionais da RTP, João Carlos Costa e Bárbara Oliveira Pinto. No caso de João Carlos, não se tratou apenas de apresentar o espectáculo mas também de acompanhar o evento a par e passo, dando dicas e participando activamente na organização num gesto altruísta e de grande profissionalismo mas também exemplo de humildade de quem sabe que o seu trabalho é, antes de mais, servir o público e isso, o João Carlos soube fazê-lo de forma elevada.
Aliás, foi também ele o responsável pela apresentação deste evento, num livrinho distribuído à entrada do pavilhão, com o programa do espectáculo, inserção de publicidade dos patrocinadores mas também com as fotos dos artistas participantes com espaço para estes colocarem os seus autógrafos ficando, assim, com uma recordação deste dia.
Aí, João Carlos explica também as razões do evento. Em Ourém, afirma, "oito famílias perderam tudo. Em segundos, as chamas consumiram anos de vida, roubando o passado, inquinando o presente e até o futuro. O Manuel Lopes, o Dinis dos Santos e o Alexandre Barreira, juntaram-se em boa hora, para ajudar a «apagar» o sofrimento destas famílias e «acenderem» uma chama de esperança. Lembraram-se de nós (apresentadores e cantores) e nós dissemos SIM! Gostaríamos de estar aqui por outras razões, mas já que são estas que nos juntam, possa o nosso contributo ser a «primeira pedra» e que «um vento de esperança» sopre de novo na vida destas vítimas". Mas João Carlos Costa não deixa também de apontar o dedo: "mais do que só ajudar a erguer paredes, será importante edificar uma nova mentalidade. Mais do que só realojar pessoas, possa esta iniciativa servir de alerta para tudo o que poderia ser feito nesta área da prevenção e nunca foi feito". Assim seja. Até porque, mais do que uma grande prova de solidariedade, de amor para com a sua terra, os nossos emigrantes deram-nos uma grande lição.
Agora importa que todos contribuíram para a verba alcançada neste dia mas também nos que o antecederam e se lhe seguiram tenham a certeza de que ela é canalizada para o seu fim. Não temos dúvidas que assim será. De qualquer modo, ela será entregue em Portugal, no decorrer de um programa de grande audiência da RTP e o Notícias de Ourém comprometeu-se em Paris e volta a fazê-lo nas páginas deste jornal, de acompanhar a par e passo a construção das oito habitações e do desenrolar dos trabalhos ir dando conta aos seus leitores de cá e de lá, que são muitos.

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