29 junho 2006

Surdos lêm celebração

Os gestos mostravam que estes eram peregrinos diferentes. Diante do ecran colocado do lado direito do Santuário, junto à colunata sul, dezenas de surdos participaram de forma mais activa, na peregrinação realizada ao Santuário de Fátima, a 25 de Junho.
As palavras que se fizeram ouvir, no recinto foram sendo debitadas, bem como os cânticos, letra atrás de letra no monitor. Quem acompanhou esta eucaristia, a partir de casa, com transmissão pela RTP 1, fê-lo a partir da tradução gestual, no canto inferior direito do ecran.
Esta primeira experiência insere-se num projecto piloto que o Instituto Politécnico de Leiria está a levar a cabo com Santuário de Fátima, a delegação de Leiria da Acapo - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal e a Associação de Surdos da Alta Estremadura (ASAE).
O objectivo do "Fátima Acessível" é tornar permitir a pessoas diferentes como cegos e surdos, uma participação na eucaristia.
Descrição de espaços
Pela primeira vez, os peregrinos vão poder ouvir a "descrição pormenorizada de espaços, da arquitectura, de obras de arte, de imagens e dos vários objectos de importância" daquele espaço religioso, explica Josélia Neves, professora da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Leiria.
Durante o sábado, foram apresentadas audio-descrições dos Túmulos dos Pastorinhos, da Capelinha das Aparições, e da Casa de Lúcia, do Poço do Arneiro, dos Valinhos e da Loca do Cabeço.
Uma imagem de Nossa Senhora esteve disponível para ser "tocada e sentida" pelos cegos que irão também participar na eucaristia, através da leitura de textos religiosos em Braille, já preparados para o efeito.
Sofrimento com fé
Durante a celebração, o bispo emérito de Coimbra, D. João Alves referiu-se de modo especial a estes peregrinos. "Tenhamos presentes, hoje, de modo especial, os nossos irmãos surdos que quiseram fazer a sua peregrinação a este santuário. Acolhemo-vos, também, como iguais".
Aos fiéis, na celebração que, coincide com a primeira peregrinação nacional das religiosas das Dores, ao Santuário, o prelado referiu que, em situações de sofrimento, a resposta de um cristão deve ser a confiança em Deus. Porque "pode ajudar-nos a tornar fecundo o sofrimento", ou seja, a compreender o porquê deste mesmo sofrimento, à luz da fé.
Nas palavras finais da homilia que, dirigiu aos peregrinos, exortou-os a que "a nossa vida seja vivida com alegria e na paciência mesmo nas horas de sofrimento".

Sem comentários: