09 março 2006

Pela dignificação do vinho de Ourém



Hoje soube-me tão bem
Passear aí sozinho
Por estas tascas de Ourém
E provar o vosso vinho
Ourém é boa terra
E tem aqui boa gente
Se beberes vinho da terra
Até cantas de contente



Estes são apenas dois exemplos dos muitos versos que Toy improvisou no domingo à noite, no espectáculo de encerramento da Festa do Vinho que decorreu este fim-de-semana no Centro de Negócios de Ourém.
A abertura foi na sexta-feira ao fim da tarde com o presidente da Câmara a recordar a antiguidade do vinho de Ourém cuja origem deverá ter sido anterior ao próprio foral.
Depois Catarino passa em revista os últimos tempos marcados pela tentativa de dignificação deste produto único e considera como momento importante o seu reconhecimento legal, encontrando-se, neste momento, o vinho em processo de certificação. Mas para o autarca, este é "um caminho que ainda mal começou", pelo que formula desejos de que "no próximo ano se possa ter garrfas com o reconhecimento no rótulo".
Quanto à ideia desta festa, Catarino recorda ser este um vinho que deve beber-se novo, "para aparecer na mesa cada ano". Sendo assim "um vinho que se renova em cada ano, é importante que também em cada ano se assinale o produto". Refere ainda a importância do vinho enquanto actividade económica que se tem vindo a perder mas aponta quantos continuam a plantar vinha "pelo prazer de o produzir para si e para os amigos" e defende a importância da certificação para lhe restituir a tal importância económica. No entanto avisa que tal não vai suceder de forma automática e, por isso, desafia a VitiOurém a apresentar um dossier à Câmara no sentido de mostrar como é que as coisas vão funcionar. Por outro lado refere a importância de existir uma estrutura como a cooperativa, ou similar que conduza à certificação e defende também a necessidade de promoção. Para isso, afirma o autarca, "temos que nos unir e encontrar vontade e meios financeiros para fazer este sector funcionar". Também é importante, defende o presidente da Câmara, que a Cooperativa vença as dificuldades dos últimos anos porque "o pequeno produtor não tem possibilidade de, por si, fazer todo o trabalho".
O presidente da VitiOurém, Luís Sousa, usou também da palavra para dizer que a associação vitivinícola está em vésperas de apresentar o seu Plano Estratégico, a três anos.
A presidente da Assembleia Municipal, Deolinda Simões referiu também a necessidade de recuperar a importância do vinho para a economia concelhia considerando que "estamos no bom caminho". Da festa afirmou tratar-se de um momento de encontro e de reconhecimento aos produtores que pode mesmo levar à recuperação de vinhas que se têm vindo a perder.
No final da Festa o Notícias de Ourém conversou com Toy
Notícias de Ourém - A sua participação, em Paris, no espectáculo a favor das vítimas dos incêndios em Ourém acabou por se transformar dando origem a uma amizade que começa a dar os seus frutos. Na altura o presidente da Câmara afirmou que a solidariedade seria recompensada. Sente que esta participação na Festa do Vinho é já uma forma de recompensa?
Toy – Quando decidi participar no espectáculo em França não foi nunca com segundas intenções. O que se falou, no jantar, e dentro da brincadeira foi que, normalmente, aqueles que mais se prestam à solidariedade são sempre aqueles que são mais esquecidos. Isso foi dito com toda a naturalidade e o senhor presidente da Câmara disse que "não senhor, já que foram vocês que se prestaram a fazer isto, então serão recompensados apresentando o vosso trabalho no concelho de Ourém". Isso leva-me a crer que ainda há políticos sérios. Para mim foi extremamente importante que isso tivesse acontecido e espero que este início de amizade, porque no fundo criou-se aqui um laço de amizade entre a música portuguesa e o concelho de Ourém e houve muita coisa que se transformou. Até o pensamento de algumas pessoas em relação a alguma música que se faz e a postura das pessoas e a maneira de estar na vida. Penso que o mais importante foi o benefício das pessoas que precisavam de alguma coisa e, ao mesmo tempo, a capacidade cultural que o concelho teve para poder receber mais música portuguesa que poderá ser mais ligeira ou não.
N.O.- Mas ao que julgo saber, a participação de hoje é quase uma brincadeira já que o concerto a sério vai ser no Verão.
Toy – Exactamente. Tenho o grande prazer em apresentar o meu concerto, que está ainda a ser ensaiado neste momento.
Esta foi uma forma de não perder o contacto com o concelho e com este povo. Isto não é dar graxa. Eu gostei muito hoje de ter bebido um copo aqui, um copo ali, de ter cantado um bocadinho, à desgarrada, na brincadeira e ter estado entre aquilo que eu mais gosto: pessoas que gostam de conviver e de conversar. Por isso tenho que dizer que gosto de Ourém. Obrigado aos responsáveis do concelho por me darem a conhecer mais um pouco deste povo que eu passei a amar.
N.O – Nesta linha, podemos já levantar um bocadinho o véu, que vai estar connosco, jornal e Património dos Pobres, lá mais para o fim do ano, uma vez mais por amizade e solidariedade, num espectáculo a favor dos mais carenciados.
Toy – É verdade. Repare que não é por acaso. As coisas vão crescendo quando sentimos que há uma onda positiva de parte a parte. A amizade entre as pessoas faz com que as coisas avancem. Digamos que a amizade é o contrário da burocracia. Na burocracia é tudo impeditivo, é tudo complicado. Na amizade as coisas simplificam-se e acontecem com naturalidade. Por isso para além desta participação e dessa que se trata de ajudar os mais necessitados no concelho de Ourém, o concerto que vai ter lugar no decorrer das Festas do concelho e depois de termos conversado agora durante o jantar, ficou no ar a hipótese de vir a Ourém um programa televisivo de gastronomia de um amigo meu, que poderá vir a divulgar também aquilo que Ourém tem de bom. Penso que é esta a melhor maneira de estar na vida, conscientes de que de mãos dadas podemos melhorar a qualidade de vida das nossas gentes.
A solidariedade começa no dia em que as pessoas que estão necessitadas percebem e ficam felizes por saber que alguém está preocupado com elas. Ou seja, não começa no bem material em si. Só o saber que alguém se preocupa é tão ou mais importante que o dinheiro que vem.
N.O.- Fale-nos agora um bocadinho do Toy e do trabalho em carteira.
Toy – O disco Sou Português é um disco actual. Saiu um álbum das melhores baladas, chamado Toy Romântico. São quinze baladas desde 1998 até 2006 que eu tenho gravado e que têm ficado no meio dos discos. Eu sou um cantor de baladas. Gosto muito de cantar baladas e esse disco trás quinze baladas diferentes. Não sei se este ano, é possível, tenho que gravar um DVD ao vivo. Tenho neste momento uma banda de músicos fantástica que produzem um espectáculo muito bom.
N.O.- É esse espectáculo que vem a Ourém, no Verão?
Toy – É. São músicos, de facto, muito bons. Eu costumo dizer que este espectáculo sem mim é bom na mesma. Esse espectáculo deverá ser enriquecido com outros músicos para fazer uma coisa a nível de coliseu ou de Aula Magna. Penso que será este ano mas não tenho a certeza porque não estou com pressa. Penso que será um marco importante na minha carreira mas o importante será chegar a todo o lado às pessoas que gostam de mim e até àquelas que não gostam mas que possam vir a gostar por aquilo que eu faço no palco que é, acima de tudo, honesto, sincero e artístico porque eu prezo muito a arte.
N.O.- Até porque as suas canções normalmente são compostas, música e letra, por si.
Toy – Letra, música, produção de orquestra, tudo. Sou aquilo que se chama em Espanha o cantautor, termo que em Portugal não existe, que é o cantor que canta os seus próprios temas. Faço a produção, toco alguns instrumentos e faço produção para outros cantores também. Claro que penso que o mais importante é que nós os portugueses apreciemos aquilo que é nosso: a nossa gastronomia, a nossa cultura, o nosso artesanato, aquilo que é nosso e continuarmos a ter orgulho de chegar a qualquer ponto do mundo com a nossa identidade.
N.O.– Como classifica a sua música? Ela também vai beber na tradição?
Toy – Vai. Por isso o disco se chama Sou Português. E tive o cuidado de ter presente a guitarra portuguesa, um instrumento tipicamente português que não existe em mais parte nenhuma do mundo.
N.O.- Eu sei que não gosta mesmo nada quando rotulam de "pimba" a sua música…
Toy – Não há classificação pimba para coisa nenhuma. É um adjectivo muito actual como o bué, etc. Secalhar há música pimba como há Jornalismo pimba ou politica pimba, no sentido depreciativo do termo. O político que se preocupa mais com o bem próprio do que com o bem comum, para mim, é um político pimba. O cantor que se está completamente nas tintas para que a música tenha ou não qualidade, que tanto lhe faz ter uma guitarra portuguesa ou um teclado manhoso, que não está preocupado com coisa nenhuma senão com fazer espectáculos e ganhar 100 contos cada dia e sobreviver com isso, se calhar isso existe e é ser pimba. Agora, tenho muita pena que não haja uma pesquisa de fundo em relação à música que se faz em Portugal porque há música ligeira feita no fundamento e no sentido de educar as pessoas, de educar o seu ouvido, musicalmente e com o cuidado, ao mesmo tempo, de não assassinar a nossa riqueza musical.
N.O.- E a sua música é feita com essa preocupação?
Toy – Sim. A minha música tem acordeão, tem guitarra portuguesa, dois instrumentos identificativos da nossa tradição musical mas tem também os sons da actualidade. Eu faço parte de uma comunidade que é a portuguesa e tenho os instrumentos que lhe estão ligados mas faço parte de outra comunidade mais vasta e por isso não deixo de ter um bom sintetizador, uma boa bateria, uma boa caixa de precursão. Preocupo-me acima de tudo com a música. Acho que percebi o que era ser músico antes de perceber o que era ser português. Comecei a cantar com 5 anos. Acredito que a arte é uma coisa nata. Pode aperfeiçoar-se ao longo da vida, mas primeiro tem que se nascer com ela. Eu considero ter tido a sorte de ter nascido com este dom de ter um grande ouvido para a música e uma grande capacidade de criatividade em relação à música e o que tenho que fazer é aproveitar este dom para, conjuntamente com tudo o que vou aprendendo, tentar dignificar aquilo que é o meio ambiente da música portuguesa.

Sem comentários: