10 agosto 2006

De mãos dadas

Esta edição do Notícias de Ourém e parte da próxima estão voltadas para as questões da migração. Já não apenas para a emigração. Ourém continua a ter, espalhados pelo mundo, muitos dos seus filhos. A maior parte partiu há já muito tempo, em busca de uma vida melhor. Mas hoje continuam a partir. Em menor número, é certo e, sobretudo, na maioria dos casos, noutras condições. Mas Ourém é hoje também um concelho de acolhimento dos que procuram junto de nós a tal vida melhor. Sobretudo europeus de leste e brasileiros, embora encontremos também outras nacionalidades. Por isso, acreditamos que continua a fazer todo o sentido dedicarmos algum do nosso tempo e do nosso trabalho a falar de migração.
As histórias que fazemos desfilar, são testemunhos de vida, de cá e de lá, de muitas e muito diferentes formas de viver fora do país onde se nasceu.
Mas acreditamos que é mais importante ainda que dediquemos este trabalho à luta contra o racismo e as xenofobias que vão surgindo, pontualmente, é certo, no nosso país. Mas este pontualmente fala dos casos extremos que chegam às primeiras páginas dos jornais e das televisões. Depois há as formas de racismo menores, porque mais dissimuladas, que passam pela dificuldade de aceitar os que são diferentes de nós porque falam uma língua diferente e possuem diferentes culturas. Aos poucos e muitas vezes sem que nos apercebamos, estamos a fomentar o tal racismo, a tal xenofobia. Muitas vezes ouvimos a frase: «não há trabalho para os nossos…». No entanto, bem lá no fundo sabemos que não é assim. Os imigrantes que nos chegam vêm fazer os trabalhos que nós deixámos de querer fazer. Aquele que os nossos emigrantes foram fazer nos países que os acolheram quando os seus naturais deixaram também de os querer fazer. Mais, vêm dar fôlego a um país envelhecido, a uma segurança social em vias de ruptura por falta de gente jovem bastante para responder com os seus impostos, com os seus descontos, aos encargos com uma população envelhecida já de si incapaz de gerar riqueza suficiente para lhes dar resposta.
É pois importante recordar isto e de forma, mesmo modesta homenageá-los a todos, emigrantes e imigrantes, numa edição que, gostaríamos, servisse também para nos ajudar a abrir horizontes através das histórias que todos e cada um deles nos traz e nos ajudasse a compreender que os caminhos se percorrem lado-a-lado, na construção de um mundo melhor.

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