02 novembro 2006

Atlético em Balanço

Como está a correr este ano a época ao Atlético?
Para aquilo que tínhamos projectado, está a decorrer dentro da normalidade. O único senão foi o jogo em casa com o Mação. A nossa ideia era ganhar todos os jogos em casa, no entanto já cá perdemos 4 pontos. Tirando isso está tudo dentro das linhas que tínhamos pensado.
Quais são essas linhas? Ficar nos 6 primeiros lugares?
É ficar nos 6 primeiros nesta 1.ª fase e depois na 2.ª fase, com a 1.ª divisão assegurada, tentar o melhor possível.
Subir está fora de hipótese?
Isso não! Isso só para loucos! A terceira divisão é completamente diferente. A cidade, a indústria e tudo o que poderá dar apoio não gere verbas suficientes para investir no futebol e assim é impossível. O objectivo deste ano é ficar na 1.ª divisão porque é sempre uma boa panorâmica que dá e alguma visibilidade ao clube. Só há uma série de anos é que estivemos dois anos seguidos na 1.ª divisão e era bom que nos conseguíssemos manter.
A prioridade são as infra-estruturas. Estamos à espera que saia a parte do apoio financeiro para continuar na construção do balneário de apoio ao campo de futebol de 7.
Nesse balneário vamos construir um 1.º andar que irá ter 1 auditório, 1 ginásio de manutenção e outro de recuperação. Hoje é imprescindível, e a nível distrital não temos nada.
Essas infra-estruturas irão ficar somente ao serviço do clube ou vão abrir a outros clubes?
A ideia é abrirmos a outros clubes. O massagista do clube e uma pessoa de Leiria estão disponíveis a aceder a esse projecto, que passa por darmos apoio a outras colectividades envolventes, não só do concelho de Ourém. Quem quiser usufruir daquele espaço terá que pagar o aluguer. Neste momento recorremos a um pessoa em Fátima que leva muito dinheiro por cada tratamento. A fazermos um protocolo com a pessoa que lá vai trabalhar, é evidente que essa pessoa irá dar apoio a todas as camadas do clube, das pessoas fora do clube irá ele receber o dinheiro que entender de forma a compensar o usufruto que dá ao clube. Neste momento estamos com um universo de cerca de 300 atletas o que é muita gente.
Quantas equipas praticantes o clube tem?
Neste momento são onze: 2 de escolas, 2 de infantis, 2 de iniciados, 1 de juvenis, 1 de juniores, 1 de seniores, 1 de veteranos e 1 de futebol feminino, sendo que de futebol feminino tem elementos suficientes para fazer duas equipas.
Quando começa a competição do futebol feminino?
Começa já a 11 de Novembro. O crescimento que houve da época passada para esta, foi a introdução de uma equipa das escolas (Escola B) que são os mais novinhos, uma segunda equipa de iniciados e é uma equipa feminina. Passámos de 8 equipas para 11.
Só em deslocações exige muita ginástica.
Muita. É um malabarismo, tem que haver colaboração dos pais que é fundamental neste capítulo. Por exemplo a segunda equipa de iniciados entra em competição com o compromisso dos pais colaborarem activamente.
Quantas carrinhas o clube possui?
Temos 3 carrinhas e 1 carro: O carro serve para os seniores virem de Leiria, outra carrinha está com os atletas de Mira de Aire e Fátima, as outras duas servem as camadas jovens. Há fins-de-semana em que vão 3 equipas ao domingo de manhã jogar fora.
Como é que resolvem esse problema?
Temos utilizado as carrinhas da APDAF e do Jardim Infantil.
Quanto é que o clube gasta mensalmente com as deslocações?
Na época anterior só em gasóleo gastávamos em média 500 Euros, este ano, no primeiro mês, passou para 650.
Em relação aos apoios, referenciou que no nosso concelho os apoios por parte das empresas são escassos. E a nível do poder autárquico, está satisfeito?
Satisfeito, nunca se pode estar. Sabemos das dificuldades que a autarquia atravessa, assim como todas as autarquias a nível nacional. Agora, olhando para o universo de atletas que temos e o de outras associações do concelho, estamos a ser mal vistos. Existe a argumentação por parte da autarquia de não nos dar os mesmos valores que dá a outras instituições o facto de terem investido no campo.
Portanto, não concorda com os critérios de avaliação?
Os critérios de avaliação não serão os mais ajustados. Porque se analisarmos, o que gastaram no Campo da Caridade, gastaram no campo de Vilar dos Prazeres. Nós, com a mesma verba que foi dada ao Vilarense e que foi dada ao Atlético, conseguimos fazer um segundo campo de futebol, neste caso futebol de 7.
Qual foi o valor dessa verba?
400 mil euros para investirmos no campo de futebol de 11 e nós fizemos também o de futebol de 7 para a formação e iniciamos a construção dos balneários. Houve uma grande ajuda da Tecnorém, mas houve também um grande malabarismo em termos de conseguirmos materiais de construção, mão-de-obra de algumas empresas da construção civil do concelho…
Houve também a campanha de venda do metro quadrado…
Sim, mas ficou um pouco aquém daquilo que se esperava. Alguns pensavam que aquilo se vendia que nem água, mas só não foram os primeiros a abandonar, porque nem sequer entraram! Portanto, deu uma grande ajuda para a época passada, sem dúvida nenhuma, porque nos 3 anos que estou à frente do clube, adquiriram-se duas carrinhas novas…
A Junta de Freguesia tem colaborado com alguma coisa?
A Junta de Freguesia colabora naquilo que pode. Penso que poderia colaborar muito mais, mas cada um é que sabe da sua casa. Houve um compromisso do actual presidente em oferecer um equipamento e depois voltou com a palavra atrás. Ou não sabia a realidade da Junta ou então deu o dito por não dito. Agora, o que é necessário em termos de máquinas ou de homens para ajudar nalguma coisa, têm estado sempre dispostos a ajudar e a colaborar, isso é um facto.
A vertente económica é que é mais complicado, dão-nos um apoio de mil euros.
É notório que, com esta direcção, assim como a anterior que no fundo são praticamente as mesmas pessoas, houve uma grande melhoria nas infra-estruturas do clube assim como no equipamento de apoio.
Foi o primeiro grande objectivo ou foi o saneamento das contas?
Em relação às contas do clube, não era muito o valor que estava em dívida. Havia questões bastante atrasadas, que nunca foram resolvidas, resolveu-se com permutas, compromissos de logo que possível saldar as dívidas (neste momento estão todas saldadas), adquiriu-se uma segunda carrinha numa base de confiança do concessionário. Neste momento, ainda só pagamos as jantes e os pneus! Não há papéis assinados a comprometer quem quer que seja, mas há a palavra e sempre a ser cumprido. Deram-nos dois anos para pagar o carro.
A curto prazo o objectivo é comprarmos um mini autocarro e já estamos a trabalhar nesse sentido, só que neste momento devido à minha situação profissional, fui obrigado a abrandar um pouco e as coisas estão a entrar um pouco em derrapagem. Houve assuntos em que declinei nalgumas pessoas, mas as coisas não se estão a resolver e em termos financeiros estamos com um sufoco muito grande, porque também chegou a altura das inscrições dos atletas na associação…
A inscrição de atletas na formação também tem custos?
Também tem, além disso, todos os nossos treinadores têm curso de treinador que foi uma exigência nossa, que tivessem o curso ou que fossem professores de Educação Física e são remunerados para esse efeito. Nos jogos em casa, estamos a procurar ter sempre presente uma pessoa para dar apoio de massagista, o que não abunda aqui no concelho e temos pessoas com formação na área da enfermagem a quem estamos a pagar e tudo isto são muitos custos. Temos miúdos desde a zona da Atouguia até para lá da Ribeira do Fárrio, o que é uma distância muito grande.
Para acarretar com todas estas despesas, têm que recorrer à organização de festas e de outros eventos.
Têm alguma actividade agendada neste momento?
Temos agendado para este sábado dia 4 de Novembro uma Noite de Fados no salão ao lado da Capela do Alqueidão. Para essa noite temos um bom elenco em termos de fadistas. São indivíduos que andam na noite do fado em Lisboa, são 2 homens e 2 mulheres. Vamos tentar com eventos desta natureza conseguir fundos para as despesas. Dentro de uma semana vamos começar a vender umas rifas a favor da compra de uma carrinha, que neste caso será para ajudar a liquidar a que temos. Dividindo as rifas por todos os atletas do clube e alguns directores e havendo a responsabilidade de terem que vender os blocos que lhes damos, penso que será fácil venderem-se. Sabemos perfeitamente que a actual conjuntura económica é deveras má.
Não têm tido apoio das empresas do concelho?
As empresas estão todas a cortar as despesas e tentar prorrogar as despesas o mais possível. Já devia ter entrado dinheiro relativo a publicidade da época passada e não entrou o que torna as coisas ainda mais complicadas.
Quando referiu que por motivos profissionais teve que abrandar um pouco a dedicação ao clube, as coisas entraram um pouco em derrapagem. Quer dizer que o trabalho em equipa não está a funcionar?
Neste caso não está porque o clube vive da carolice de 2 ou 3 pessoas, há outras que colaboram dentro das suas possibilidades, mas é muito pouco o tempo que dão em prol do clube. Outros estão ali quase como uma forma decorativa! Algumas pessoas que pertencem à direcção, e que deviam procurar arranjar algum dinheiro, não vão e as coisas não funcionam se não for a trabalhar em equipa. Já distribuímos algumas tarefas mas depois quem acaba por ter que fazer as coisas sou eu, e o tempo é pouco.
Isso revela algum cansaço. É o último mandato?
Iniciei um projecto do qual já se concluiu a primeira fase, que era a colocação do relvado sintético e a melhoria das condições de trabalho. Há uma segunda fase que é a conclusão das obras dos balneários do campo de 7 e dos ginásios de recuperação e outro de manutenção onde todas as pessoas possam queimar algumas calorias e aliviar o stress do dia a dia…
Quer dizer que só no fim dessas obras concluídas, é que pensa se vai ou não continuar à frente da direcção?
O mandato acaba em Junho do próximo ano, há aí outro projecto para arrancar (e já se está a trabalhar nele), e que consta da recuperação dos balneários antigos com a construção de um 1.º andar onde irá ter uma lavandaria. Contamos apresentar o projecto até Março do ano que vem, para concorrer a umas verbas do IDP.
As instalações são vossas?
As instalações não são nossas, mas para nos podermos candidatar a esse projecto era necessário termos o compromisso da Câmara (porque são os donos daquela área), em nos cederem as instalações por um período de pelo menos 20 anos e nós temos a promessa do Presidente da Câmara que disse que não havia problema nenhum, tanto que a parte de dinheiros e candidaturas para a construção do complexo desportivo no Carregal está completamente posto de parte. Na minha opinião não é nos próximos 10 anos que se faça lá alguma coisa a não ser movimento de terras. Portanto, nós estamos numa zona envolvente bastante engraçada.
Ou seja, a Câmara comprou o terreno e cedeu-o ao Atlético?
Sim, até que eles venham a ter outras instalações aquilo é nosso. A manutenção da área envolvente fica ao encargo da Câmara, assim como o custo de electricidade, etc. somos nós que pagamos, isso fará parte de um protocolo que ainda não foi assinado.
O património do clube, além do campo que é cedido pela câmara, é a sede?
É a sede que funciona na Rua António Pereira Afonso com uma boa área: duas lojas e uma cave ampla. Em relação ao campo, posso dizer que só saímos dali quando a Câmara nos arranjar outro espaço condigno e equiparado ao espaço que lá temos, porque as obras que lá se fizeram e o Presidente da Câmara diz que com o dinheiro que nos deu fizemos uma coisa que se fosse a Câmara a fazer não conseguiam… é evidente que há ali muita coisa oferecida por muita gente e carolice de várias pessoas.
Fizemos uma coisa que no estádio de Fátima não fizeram. pusemos um som fixo que não é alugado para os jogos conforme o Desportivo de Fátima tem que fazer. Ou seja, foi uma coisa feita com cabeça, tronco e membros. Há ali muito dinheiro nosso investido e a Câmara também já disse que não nos vai ressarcir aqueles valores, portanto quando sairmos dali têm que nos dar um espaço com as mesmas condições. Como eu vejo que não é nestes próximos anos que isso vai acontecer, o ideal é tentar-se investir ali a pensar num futuro a médio prazo, porque se fosse a longo prazo o que tinha sido bem feito era ter demolido aquelas bancadas e construir-se umas como deve ser.
Quais são as fontes de receita do clube?
A publicidade, o bar é muito pouco, a bilheteira está a dar para as despesas do jogo sem contar com a taxa do jogo que é muito grande.
E a loja?
Zero! As pessoas que continuam a ir ao futebol, por muito que me custa dizer, são as mesmas que iam antigamente. Vão mais meia dúzia do que iam.
E a formação?
A formação paga os custos que temos com ela e paga a luz.
Em relação à quotização dos sócios. As pessoas têm aderido?
A quotização tem sido muito pouco. Temos cerca de 1300 sócios, mas não temos mais de 400 que pagam as quotas, o que é muito pouco para o número de habitantes que Ourém tem. Agora, tudo isso nós sabemos que passa pelas pessoas que estão à frente dessa área e no incremento que dão. Ando há dois anos para fazer uma coisa mas sem ninguém que me ajude, é humanamente impossível. Trata-se de se passar por uma reestruturação em termos de numeração dos sócios, eliminarem-se aqueles que já faleceram, outros que desistiram, outros que mudaram de terra e deixaram de pagar e actualizar a numeração de associado e actualizar também o valor das quotas, porque 10 euros anuais sobra pouco mais que o custo do cartão de sócio.
A Câmara tem dito que é difícil acudir a todas as solicitações das associações e colectividades do concelho por serem muitas. Viria com bons olhos, uma possível junção do Atlético com outras colectividades da freguesia como o Juventude Ouriense, Alqueidão, Pinheiro, etc.?
Eu veria com bons olhos, mas é um bocado complicado…
Por outras palavras, dois clubes como o Atlético e o Juventude Ouriense "cabem" numa cidade como Ourém?
Muito sinceramente tanto o Juventude como o Atlético estão os dois bem dentro da cidade e acho devia de continuar assim, porque nós não sabemos se formos os dois pedir à mesma pessoa, se ele "divide o mal pelas aldeias" ou se formos só um, se ele daria o mesmo que dava aos dois.
Se alguma vez houvesse uma junção entre o Atlético e o Juventude, penso que seria benéfico, mas com alguma autonomia em termos de gestão de cada modalidade. Por exemplo, o Juventude tem a natação, o Atlético só está na área da formação enquanto que o Juventude além da formação tem a competição, aí seria uma grande vantagem para ambos.
Não sei qual será a vontade dos associados de ambas as colectividade.
Acha que, para resolver esse problema do excesso de colectividades, a iniciativa teria que vir do poder autárquico?
Outros clubes que estão aqui na freguesia e noutras freguesias vizinhas, por exemplo o Vilarense que é um clube que só tem duas equipas (seniores e juvenis por ser a condição necessária para estarem na 1.ª divisão), têm muita dificuldade em encontrar miúdos para constituir essas equipas. O Atlético sempre trabalhou na formação e cada vez trabalha melhor…
Um sinal disso mesmo foi a recente chamada de um jogador da formação do Atlético à selecção nacional sub-16 e depois a sua contratação para o Sporting. As contrapartidas para o Atlético foram boas?
As contrapartidas foram as possíveis, poderia ter sido mais, mas o jogador está numa instituição de solidariedade e sabíamos que iria morar para Lisboa. Foi para um clube que trabalha muito bem na área da formação e na parte humana, onde o Benfica trabalha muito mal.
Ainda dentro da formação, algum júnior da época passada passou a integrar o plantel sénior do Atlético desta época?
Subiram quatro mas enquanto que dois têm feito parte do grupo de trabalho os outros dois, um pelos estudos e outro por lesão ainda não participaram este ano.
Qual é o orçamento global do Atlético para este ano?
O orçamento total do clube é de cerca de cem mil euros.
Desse valor, quanto é o do futebol sénior?
No início apontamos para 20 mil euros, mas é mais um bocado. Não contamos algumas coisas que foram um pouco inflacionadas, mas é de cerca de 25 mil euros.
Esse valor está muito aquém dos vossos adversários.
Sim, de longe. É dos mais baixos da 1.ª distrital.
Os resultados são muito positivos olhando para o vosso orçamento.
Sim, se os resultados forem melhores vai aumentar estes valores porque nós temos o prémio de jogo que é condicionado em função dos resultados. As receitas também subirão o que é normal. Em termos de patrocinadores, não consigo manobrar mais, com este prolongar da minha actividade profissional.
O salto foi muito grande, quem não vai à Caridade há dois anos nota uma diferença abismal.
Com as condições que foram oferecidas tem vindo muita gente de fora para aqui, só que a massa humana para ajudar não acompanhou o crescimento.
Existe parcerias com outros clubes que estão em divisões acima do Atlético, como o Desportivo de Fátima ou o União de Leiria?
Não. Jogadores que subiram a seniores e que não fazem parte do nosso plantel, indicamos para jogarem noutros clubes, nós teríamos a opção de jogarem ou não as duas primeiras épocas e abdicamos disso. Estão a jogar em clubes como o Caxarias e Seiça.
Mas não acha que poderia haver uma parceria com um clube de divisão superior?
É um pouco complicado porque, por exemplo, um clube que está à frente de nós, por ter uma equipa no nacional, é o Fátima. Na área da formação nós trabalhamos melhor do que eles. Temos muito mais miúdos, embora quantidade não seja sinónimo de qualidade, mas eles para virem é porque alguma coisa tem de melhor. Pelo menos não andamos como o Fátima anda com a casa às costas. Hoje estão a utilizar mais o Estádio João Paulo II, mas de qualquer maneira utilizam o campo de S. Mamede ou de Vale Porto. Nesse capítulo vamos uns furos bem acima deles.
Na época passada, nos infantis estavam a trabalhar bem, fomos campeões de infantis de 2.º nível. Esta equipa, por muito pouco não passou ao nível 1.

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