02 novembro 2006

Foi como um rio...

As cheias que na semana passada assolaram o país também não pouparam Ourém.
Na noite de terça para quarta-feira viveram-se alguns momentos complicados no concelho em geral e nas cidades em particular. Nesta, a lagoa de Seiça saltou do seu leito, nalguns casos criando desvios e levando na sua torrente tudo o que encontrava pela frente. Na avenida dos bombeiros, por exemplo, a força das águas rebentou com uma tampa de esgotos, saltando para a rua e abrindo um enorme buraco onde cairia, mesmo, um carro de bombeiros que havia vindo de Torres Novas para ajudar Ourém. Várias casas particulares ficaram alagadas, caíram muros e a corrente levou consigo estaleiros de obras que se encontravam perto das margens da ribeira. Houve animais arrastados na corrente e outros que ficaram isolados acabando por não comer durante vários dias porque não era possível chegar aos seus currais.
Fora do concelho, no Agroal repetiram-se imagens já vistas com o primeiro piso dos estabelecimentos ali existentes a ficarem completamente submersos. Mas para além desta localidade há a referir a queda da ponte do Cercal numa das estradas mais movimentadas do concelho, ligando-o Leiria. A situação teve que ser acudida de imediato e foi um empresário oureense que ali mandou colocar uma ponte de madeira provisória. Estavam previstas iniciar-se as obras naquele local na terça-feira, já depois do fecho desta edição, esperando-se que elas fiquem prontas hoje, sexta-feira e o trânsito normalizado.
Mas voltemos à noite 24 para 25. As coisas começam a complicar-se por volta da 1h00 da madrugada, quando chega o primeiro pedido de socorro aos bombeiros e, a partir daí, tudo de precipita.
Na Ponte dos Namorados, a raiz da grande tília que ali se encontra entope canos e passagens de água, obrigando a ribeira a mudar o seu curso. O caudal desloca-se para o passadiço ao lado e derruba o muro. Segundo o vereador com o pelouro das obras municipais, João Moura, «as coisas só funcionaram porque andaram 40 pessoas da Câmara, para além dos bombeiros e outros membros da protecção civil, toda a noite a tentar fazer com que elas funcionassem».
Na avenida dos Bombeiros, como já referimos, abateu um colector de águas pluviais, dando origem a um enorme buraco que a água tornava invisível e que por isso levou a que um carro de bombeiros de Torres Novas lá caísse, acabando o condutor por ser transportado ao Centro de Saúde.
Naquele local, foram muitos os que sentiram a água entrar-lhes pelas casas adentro, deixando um rasto de destruição. É que mais do que a água, a lama que fica depois, destrói tudo. Foi o caso de Rui Cancela que viu a água da ribeira invadir-lhe as terras, levar-lhe duas ovelhas, galgar o muro e entrar em casa. Mais abaixo, foi a vacaria de José Sotero que ficou completamente isolada com o desvio do leito da ribeira que criou um lago junto à vacaria impedindo a passagem, pelo que os animais acabaram por ficar vários dias sem poderem serem alimentados.
Do outro lado da estrada, a Casa Adão sentiu também a força da intempérie com a água a entrar armazém adentro, destruindo tudo o que se encontrava no rés-do-chão. Segundo Américo Adão, já não é a primeira vez que a água de cheias lhes invade o armazém, «mas nunca como desta vez», com água até 1,5m de altura.
Mais abaixo, junto à ponte do Carregal, um estaleiro da Batipor foi levado pelas águas. Também aí, e uma vez mais, o rio saiu do seu leito, criando um novo leito na margem direita. Na margem esquerda, o parque linear ficou submerso, tendo desaparecido tudo quanto eram tampas de rega e aspersores. As causas dos desvios do leito eram evidentes: as grandes árvores, nas margens, estendiam as suas raízes, desnudas, impedindo a livre passagem da corrente que era obrigada a desviar-se. Daí que ainda na ponte do Carregal fosse visível um buraco que, feito pela natureza tinha características visuais de verdadeira obra de arte.
Agora é tempo de deitar mãos à obra e arranjar o que a água destruiu. A avenida dos Bombeiros, uma das estradas da cidade a necessitar de intervenção, vê as obras precipitarem-se. É que, como explica o vereador responsável, já que é preciso furar, então, arranja-se tudo. Por isso, logo após a cheia, João Moura reuniu com responsáveis pelas diversas infra-estruturas: água, electricidade, gás, etc. para que, numa acção concertada, sejam deitadas mãos à obra e arranjada aquela estrada ficando já com todas as infra-estruturas necessárias.

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