29 junho 2007

Encontrar novas formas para «viver nas cidades»


«Viver nas Cidades: Desenvolvimento e Qualidade de Vida», foi o tema proposto pelo PSD para ser debatido em Tomar, no passado dia 23, durante a tarde. A apresentação do tema esteve a cargo de Ferreira do Amaral e de Miguel Relvas. Este debate decorreu no âmbito da revisão do programa do Partido e contou com a presença do seu líder nacional, Marques Mendes.
Coube a Carlos Coelho fazer a apresentação dos oradores e introduzir o tema não só na sala mas também para a Internet já que a sessão aí decorria em directo, podendo as pessoas colocar as suas questões, também deste modo.
Ferreira do Amaral apontou a necessidade de se acabar com os sub-urbanismos, criando novas centralidades na luta contra a desumanização das cidades, em particular das de maior dimensão. Obviamente que a referência foi a cidade de Lisboa com os seus muitos bairros sub-urbanos de pessoas desenraizadas, que perderam os laços familiares e de vizinhança, tornando-as frágeis e portadoras de instabilidades que acabam por ser caracterizadoras da vida nestes espaços, à margem das cidades. Aliás, recordando experiências pessoais vivenciadas em tempos de campanha, o ex-ministro fala de subdesenvolvimento e de uma nova geração de portugueses com algumas deformações advindas das condições de vida em que nascem e são criados, em guetos suburbanos, em bairros da lata sem o mínimo de condições e de dignidade humana, fruto do êxodo para as grandes cidades que não estavam preparadas para os receber, empurrando-os, por isso, para as suas zonas limítrofes. Mas também aí não foram criadas condições de acolhimento. Faltou a construção que acabou por se traduzir em bairros de lata, ou, quando ela existiu, foi de muito pouca qualidade. Por outro lado, não foram criadas redes de transportes capazes de dar a devida resposta e a vida foi-se degradando.
Mas para Ferreira do Amaral, a solução não passa por impedir as pessoas de irem para as cidades, coartando-lhes a vontade e a liberdade. Defende que a solução passa por «preparar as cidades para o crescimento, através da resolução antecipada dos problemas de urbanismo e de transportes» garantindo assim que ela possa «receber com dignidade as pessoas que nela queiram viver».
Daí a importância de se possuir uma visão antecipada do que vai acontecer porque, afirma, «o problema vai manter-se», ou seja as pessoas vão continuar a deslocar-se para as cidades onde, por via da existência de muito mais gente, também existe os serviços e os equipamentos nas diferentes áreas, como é o caso da saúde ou da cultura, que possam dar resposta aos seus anseios.
E se por um lado a cidade não comporta os que chegam, por outro acaba por empurrar mesmo os seus, que ali nasceram, para as margens, desenraizando-os também, por falta de condições onde uma das mais evidentes, é a falta de espaço para ter as suas viaturas já que, mais uma vez devido a problemas de estratégia na área dos transportes, a cidade acabou por criar uma forte incompatibilidade com o automóvel.
Assim, para Ferreira do Amaral, «o sub-urbanismo é um grave problema do país que não se resolverá por si próprio», antes tende a arrastar-se e a agravar-se. Necessitará pois de vontade e intervenção política para alterar aquilo que tem sido o padrão de vida das grandes cidades.

Para Miguel Relvas, para além do êxodo para as cidades, um problema que não é apenas português, existe outro factor a que não se assistiu na Europa que foi a litorização. Ou seja, as pessoas não se deslocaram apenas para as grandes cidades mas essa deslocação fez-se no sentido da litorização, desertificando o interior e o deputado teme que não se encontre solução para o problema.
Considera que o país se encontra já bem infraestruturado e utiliza uma metáfora bem actual para dizer que está na hora de «fechar o ciclo do hardware e começar o ciclo do software», ou seja dos conteúdos. E manifesta alguma incompreensão pelo facto de «os presidentes de Câmara se entenderem para dividir o dinheiro» mas não o fazerem «para estruturar o país e planeá-lo».
Por outro lado, acusa os autarcas de se preocuparem mais com a construção de rotundas do que com a formação dos seus recursos humanos e defende as parcerias interminicipais para dar resposta aos problemas não só do futuro mas já da actualidade. Diz Relvas que «as soluções não podem ser de olhar apenas para o espaço municipal» porque embora reconheça que o velhinho modelo das inaugurações «é agradável e enche o olho», a verdade é que é um modelo esgotado. Dando o exemplo de Lisboa, Relvas diz que se vêem os autarcas a «quererem resolver os problemas com velhas soluções que já não servem».
O encerramento da sessão esteve a cargo do presidente do partido que salientou a importância destes encontros, a decorrer no país, com vista à actualização do Programa do PSD. Marques Mendes referiu o facto de se tratar de sessões completamente abertas aos militantes mas também a quantos queiram participar contrariamente ao que sucedia anteriormente.
Marques Mendes aproveitou para falar da necessidade de credibilização da política e dos políticos, defendendo para tal a importância de Programas que estabeleçam fios condutores da sua acção, no sentido destes apresentarem um «pensamento estruturado». Para que a tal credibilização aconteça, o líder do PSD fala da importância de não se trocarem «convicções por conveniências», de «não fazer o contrário do que se promete», considerando que, em política, «o importante não é falar, é ser ouvido». Por isso sublinhou a necessidade dos responsáveis políticos serem exemplares, conscientes que «a política é um serviço público que mexe com a vida dos outros» e, por isso, «não pode haver facilitação».

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