01 junho 2006

Depois das cinzas, casa nova



A Câmara Municipal de Ourém e a Cáritas entregaram, na passada quinta-feira, dia 25, as chaves da primeira habitação reconstruída do conjunto de oito que, na sequência dos incêndios do verão de 2005, estão a ser construídas. A casa, situada na localidade de Lavradio, freguesia de Matas, custou cerca de 74 mil euros e teve um prazo de execução de 120 dias.
Manuel Antunes e Olívia de Oliveira, receberam as chaves da suanova habitação, das mãos do presidente da câmara, David Catarino, e de Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa. Presentes também, entre outras entidades, representantes da Caritas de Leiria, Junta de Freguesia, e ainda o Vigário Geral da diocese que procedeu à bênção da nova casa.
À cerimónia associaram-se também representantes da Associação de Portugueses de Saint Ouen que se mobilizou na promoção de iniciativas de angariação de fundos para o mesmo fim, junto da população emigrante em França, nomeadamente num concerto com artistas portugueses em Paris, que o Notícias de Ourém presenciou e divulgou, e onde angariou mais de cinquenta mil euros para auxiliar aos trabalhos. Na altura Catarino deixou a promessa de convidar os organizadores para assistirem à entrega das casas tendo agora cumprido a promessa. A acompanhá-los veio João Carlos Costa, o animador do espectáculo em Paris e no ar ficou a expectativa de, pelo menos alguns dos artistas que participaram no mesmo, poderem estar presentes num outro momento de entrega.
Nas intervenções, David Catarino referiu a rapidez com que as habitações foram edificadas e o "trabalho cuidado que ouve na selecção das famílias que tinham dificuldades financeiras e que realmente necessitavam deste apoio".
Um trabalho cuidado, há que fazer justiça, que é extensivo também à própria construção onde imoperam a simplicidade e o bom gosto. É evidente o carinho colocado neste trabalho, evidenciado nos pormenores que tiveram em conta o facto da habitação se destinar a uma família habituada a viver no mundo rural. Por isso, nem o recanto com o forno a lenha faltou o a torneira no exterior para regar o canteiro florido que circunda a casa. A emoção do momento para os dois idosos que receberam a chave era evidente mas, mesmo assim, Manuel Antunes não deixou de pedir alcatrão para o caminho em frente à casa que veio substituir a antiga «barraquita» como o próprio lhe chamou. No final não faltou o brinque com champanhe e o bolo que o casal fez questão de encomendar para comemorar o momento
Eugénio Fonseca salientou "o empenho da equipa projectista na adequação dos projectos às necessidades das famílias e do construtor no cumprimento dos prazos e dos orçamentos". Destacou ainda bem «a transparência com que a Cáritas está a fazer a aplicação dos meios que lhe foram confiados pela edificante solidariedade de milhares de portugueses».
As restantes habitações deverão ficar concluídas nos próximos meses.
Os apoios
Em menos de um ano um conjunto de entidades conseguiram sintonizar-se, encontrando disponibilidade financeira, levantando as situações urgentes, realizando projecto, aprovando e realizando a obra.
Com base num levantamento feito no terreno das famílias afectadas e quais as situações de emergência social, a autarquia partiu para a elaboração dos projectos, destinados a oito famílias, tendo em conta as suas rotinas. Surgem assim projectos-tipo com dois, três e quatro quartos.
Num processo célere é aberto concurso e são seleccionados os empreiteiros.
Os donativos são todos entregues à responsabilidade da Cáritas, que assume o andamento do processo. A autarquia acompanha e fiscaliza as obras.
No total serão edificadas, para além da habitação já entregue, mais seis casas T2 e uma T4. O custo total das construções é de 615 mil euros.
O financiamento da construção das moradias baseou-se, em donativos, destacando-se o BES, que entregou 15 mil euros, o INH, que entregou uma quantia semelhante e a fundação Calouste Gulbenkian, que entregou cerca de 45 mil euros; diversos particulares anónimos também depositaram os seus donativos em contas bancárias. A Câmara ofereceu o projecto e o acompanhamento da obra e a Cáritas complementou o restante.


Época de incêndios no concelho

Relativamente à situação do concelho no que se refere à preparação para a época de incêndios, o presidente da Câmara recorda que «estamos a passar por um processo de alteração de legislação que ainda não está concluído». Refere a existência de «um dispositivo que foi apresentado, sobretudo no que diz respeito a meios aéreos» mas, acrescenta que «de resto, não sinto que tenham sido tomadas medidas nenhumas». David Catarino faz referência a uma comunicação da Direcção Geral de Recursos Florestais, recebida no passado dia 23 que dizia que «as brigadas de vigilância que a Câmara costumava pôr a funcionar, deixavam de fazer sentido porque essa competência estava atribuída à GNR e à Direcção Geral de Recursos Florestais». Portanto, afirma o autarca, «em boa verdade, não vi nada alterado, até aqui. A operacionalidade dos meios aéreos, vamos ver no momento de necessidade, e estou a aguardar que termine este processo para reunir com os bombeiros para estabelecer prioridades no investimento, sobretudo em meios de combate a incêndios, sendo certo que as três corporações de bombeiros de Ourém, estão praticamente ao nível que estavam no ano passado, em termos de operacionalidade e de meios disponíveis». O presidente da Câmara aponta ainda o facto de que «a área do concelho que, potencialmente, pode arder este ano, é muito menor» e, por isso «não é de crer que tenhamos um ano como o ano passado». Mas deixa o alerta: «não significa isto que não deva haver todos os cuidados por parte dos proprietários de zonas florestais em limparem junto das habitações».
Já no que respeita à Câmara, os trabalhos de limpeza de matas que estavam previstos «praticamente ardeu tudo, pelo que não se coloca essa questão». Mas, insiste Catarino, «junto das povoações, os proprietários são responsáveis pela limpeza de uma faixa de 50 metros em volta das habitações e eu apelo a que as pessoas façam esse trabalho para evitar riscos para quem tem as habitações e outras construções. Aliás, o não o fazer pode, depois, originar responsabilidades sobre os proprietários vizinhos».

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