20 julho 2006

História de Ourém desfila no palco



Lotação esgotada para assistir à encenação das músicas da Orquestra Típica da Academia de Música Banda de Ourém, no passado sábado à noite, junto à Casa dos Magistrados.
O calor estival propiciava as saídas nocturnas e a população acorreu para assistir a um espectáculo diferente que envolveu a Orquestra Típica, o grupo de teatro Apolo e o rancho folclórico Lírios do Nabão. Tratou-se da encenação de quadros da história oureense, ao mesmo tempo que, como diria Vítor Frazão em nome da Câmara de Ourém, ali se escrevia também uma página de história.
Tudo começa com D. Maria Almeida (Dora Conde) que à varanda daquela que foi a sua casa, apresenta retractos vivos dos costumes e ofícios das gentes de Ourém no início do século. No palco a história faz-se através das músicas da Orquestra Típica conduzidas pelo maestro José António Santos, ele que foi o primeiro ideólogo do espectáculo.
É José António que nos conta como a ideia terá surgido, no ano passado, durante a deslocação do grupo aos Açores. «Estivemos 7 ou 8 dias todos juntos e, em conversas ao final da noite, entre um copo e um cigarro, surgiu a ideia. Fomos falando e, quando chegamos cá, pensamos que era engraçado fazer-se isto».
Mas porque não basta ter ideias, é preciso saber concretizá-las, José António diz que, depois, «através do Gonçalo que é uma pessoa extremamente organizada, fizemos uim roteiro que apresentamos ao grupo de tatro, convidamos o rancho e tentamos fazer um intercâmbio de ideias».
E foi um sucesso a avaliar pela reacção do público, apesar do pouco tempo e do pouco conhecimento que os elementos dos três grupos tinham uns dos outros. A orquestra tem vindo a fazer recolha de músicas junto dos ranchos da região com vista à produção de um CD no próximo ano. Por isso, como refere o maestro, «nós tínhamos o nosso trabalho feito». Depois «foi apresentar propostas, definir ideias, definir, em cada quadro, o que é que se integrava e o que é que se pretendia». Por isso os ensaios foram parciais tendo decorrido apenas na véspera do espectáculo um ensaio geral.
Mas para José António Santos, o que é importante, é que este espectáculo pode ter marcado o início de um novo ciclo pautado pelas parcerias entre as colectividades. «As associações passam a vida voltadas de costas umas para as outras e eu acho que, de uma vez por todas, as pessoas devem pensar que podem colaborar em vez de virar costas. É ridículo estarmos todos a trabalhar para um bem comum, o da comunidade em que nos inserimos e fazê-lo de costas voltadas uns para os outros. Só de mãos dadas poderemos fazer mais e melhor».
Talvez por isso, José António, depois deste espectáculo, acredita que pode fazer-se mais e que um dia ainda podemos ver desfilar pelo palco não apenas quadros do início do século mas sim um pouco de toda a história de Ourém. «A semente está lançada, a partir de agora, basta que as pessoas queiram…».
Dora Conde, para além de interpretar o papel de D. Maria Almeida, narrador omnipresente do espectáculo, foi a sua encenadora. Recorda o convite feito pela Orquestra Típica onde o desafio passava por recriar quadros que ilustrassem as suas músicas, muito ligadas a Ourém e à sua história. «A partir daí construiu-se todo um guião», refere. «Foi-nos apresentada uma primeira versão que acabou por ser toda alterada tendo por base o espectáculo teatral». Para além disso foi feita investigação histórica onde «o grupo de teatro procurou inteirar-se dos costumes e tradições de Ourém no início do século».
A ideia de ter como narradora D. Maria Almeida, explica-nos Dora Conde, advém do facto «desta ser a casa dos magistrados e ela, como esposa de um magistrado, vive aqui. Daí que surja na janela de sua casa onde vai narrando a história. Ela é, no fundo, o fio condutor que liga os diferentes quadros. Estamos em 1920, com as tradições e os costumes da época mas procurámos também recuar de modo a falar das origens de Ourém com a lenda de Oureana. Até porque as músicas da orquestra típica são muito nesse sentido».
Quanto a avançar para um desafio maior, o tal de percorrer de forma mais vasta temporalmente a história de Ourém, Dora Conde diz ter essa ambição.
Em relação a este espectáculo diz que «quando a proposta nos foi lançada, efectivamente não sabíamos bem no que é que isto ia dar porque afinal trata-se de três grupos onde quase ninguém se conhece e cujo trabalho foi desenvolvido em muito pouco tempo». Porém, «trata-se de uma parceria importante, na medida em que acreditamos que assim é sempre possível fazer-se um bocadinho mais, aliando a dança ao teatro e à música, no fundo três formas de arte que se tocam muito de perto».
Para além de José António Santos e Dora Conde, houve outro elemento considerado como essencial na produção deste trabalho. Trata-se de Gonçalo Cardoso. Ao Notícias de Ourém refere a ideia de José António que «eu passei para o papel. Fiz logo um projecto», afirma, «com o que era necessário e fiz a sequência histórica. No fundo criei o tronco. Mas quem fez os ramos, as flores e os frutos, foi a Dora, com a sua experiência em teatro».
Também para Gonçalo Cardoso, fica provada a importância das parcerias, até porque «correu muito bem e todos acabámos por nos enriquecer. Partilhámos experiência e todos nós aprendemos muito com a encenação, o trabalho de actores. Ficamos admirados e percebemos a gestão de toda aquela orgânica. Do rancho recebemos o testemunho de algumas tradições e hábitos que não conhecíamos…».
Quanto a ir mais longe, alargando temporalmente o espectáculo, Gonçalo Cardoso acredita que «tudo se pode fazer através de parcerias. Nós continuamos a fazer a nossa investigação junto dos ranchos e à medida que avançamos vão surgindo novas histórias e tradições que, certamente, um dia iremos mostrar ao público porque é para a comunidade que trabalhamos».
No final do espectáculo, o vice-presidente da Câmara fez questão de agradecer aos três grupos o trabalho desenvolvido, considerando tratar-se de um «grande espectáculo» a «merecer que se repita». Frazão repete a ideia deixada por Dora Conde ainda no papel de D. Maria que, do alto da varanda, deixava expresso o desejo de que as novas gerações possam perceber assim um pouco da história da sua terra e das suas gentes. O vereador considerou ainda que acabara de ser «rubricada uma página importante da cultura deste concelho».
Também o presidente da Academia de Música Banda de Ourém quis deixar os agradecimentos pelo trabalho por todos desenvolvido, salientando o de Gonçalo Cardoso, Dora Conde e José António Santos.

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