12 outubro 2006

Hospitais de Tomar e Torres Novas só com urgência básica


O ministro da Saúde, Correia de Campos, divulgou, para discussão pública durante o mês de Outubro, a "Proposta de Rede de Urgências", um documento com 39 páginas que está disponível em: www.portaldasaude.pt.
O documento elaborado por uma comissão técnica coloca a urgência médico-cirúrgica no hospital de Abrantes, enquanto que nos de Tomar e Torres Novas ficam as chamadas urgências básicas (SUB).
A reorganização proposta por onze especialistas deverá começar a ser executada no início do próximo ano, de forma escalonada no tempo e em "conjugação com outras acções complementares ligadas a acessibilidades e à requalificação de recursos humanos e materiais".
A situação era previsível já que o problema se arrasta há anos e prende-se com a construção de três hospitais tão geograficamente próximos.
Procurando perceber o que de facto são as chamadas urgências básicas, o NO falou com uma fonte médico-hospitalar que nos explicou que as coisas, por vezes, são um pouco diferentes daquilo que se pretende fazer entender. Na verdade pouco irá mudar. Actualmente, as urgências mais graves, ou seja, as chamadas emergências médicas, já são encaminhadas, na origem, para os locais de socorro pré-definidos. Isto quer dizer que, ao chegar junto do doente, a equipa do INEM lhe presta os primeiros socorros logo no local, levando-o depois para o hospital devido. Daí a importância de haver mais ambulâncias devidamente equipadas, questão aliás já assumida no discurso ministerial.
O que se propõe é que em Tomar e Torres Novas fiquem apenas equipas de dois médicos e dois enfermeiros, colocando a urgência destes dois hospitais ao nível de meros centro de saúde atendendo casos simples e fazendo pequenos curativos.
Mas na verdade, segundo a nossa fonte, a situação não poderia manter-se como estava por muito mais tempo por ser incomportável e não apenas em termos económicos mas também no que se refere à saúde e ao correcto atendimento dos doentes. Isto porque, na realidade, as emergências médicas não são tantas que justifiquem o serviço nos três hospitais a tempo inteiro e o que acaba por ser feito nas chamadas urgências não passa de consultas que, embora consideradas urgentes pelas pessoas, não o são de facto em termos médicos.
E quando se fala na falta de médicos há quem considere que as coisas não são bem assim. O que acontece é que a sua distribuição territorial é excessiva e os médicos acabam por perder muito tempo em actos administrativos.
Com a proposta agora apresentada há já quem retome uma ideia antiga, desafiando a coragem política para a tomar, e que passaria pela criação de um único hospital de agudos, ou seja para receber verdadeiras emergências, localizado num ponto central que se defende poderia ser na zona do Entroncamento ou da Atalaia. Enquanto isso, os outros hospitais do Médio Tejo deveriam seguir outros rumos, como, por exemplo, os cuidados continuados. Ou seja, não haveria necessidade de pôr em causa a sua rentabilidade quer em termos económicos quer de saúde.
Aliás, o que está em causa, no entender da nossa fonte, é apenas o «porquê» do hospital escolhido de entre os três ser o de Abrantes quando até são reconhecidas as melhores acessibilidades do de Torres Novas.
Em relação ao hospital de Tomar, diz o documento que "no contexto do centro hospitalar, a casuística, número de população e distância/tempo de trajecto justificam um serviço de urgência básica (SUB)", assim como em Torres Novas.
Ou seja, não há doentes que justifiquem a manutenção do serviço nos três hospitais. Porquê escolher o de Abrantes deverá ser a questão colocada, e que levanta uma outra, também já velha, e assumida politicamente, que é a do forte lobby instalado em Abrantes.
Seja como for, o trabalho, elaborado pela comissão técnica de apoio ao processo de requalificação das urgências, foi entregue pelo ministro da Saúde à Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP). Agora, Correia de Campos convida a ANMP, as câmaras municipais onde se localizam pontos de rede, as ordens dos médicos e de enfermeiros, as associações sindicais e as associações de doentes ou de utilizadores legalmente constituídas a emitirem as suas opiniões sobre esta proposta de rede de serviços de urgência. A Assembleia Municipal de Tomar já reuniu, tomou posição e pediu uma audiência ao ministro, ao mesmo tempo que convidou as Juntas de Freguesia a assumirem, também elas, posição. Ourém é um dos concelhos servidos pelo Centro Hospitalar do Médio Tejo e por isso há que perguntar se também no nosso concelho haverá discussão e se dela sairá alguma posição concertada. Que tenhamos conhecimento, não há por cá associações de doentes, legalmente constituídas pelo que resta esperar que a iniciativa parte do poder político: Câmara e Assembleia Municipais e/ ou Juntas de Freguesia. Mas a fazer-se, esta terá se ser uma discussão séria, com o devido distanciamento e sem o clássico sentido da «quintinha», que tão maus resultados trouxe, no passado, obrigando a que hoje seja urgente tomar decisões e assumir os erros, sempre que seja caso disso.

Sem comentários: