08 março 2007

População quer centro de negócios do outro lado da A1

Esclarecer, elucidar as pessoas foi o objectivo de uma sessão de esclarecimentos sobre o projecto do centro de negócios levada a cabo a 23 de Fevereiro. Três centenas de moradores de Boleiros, Maxieira e arredores participaram nesta reunião depois de, na assembleia de freguesia, 25 pessoas terem pedido alguns esclarecimentos sobre o mesmo na sequência de cartes-convite para a venda de terrenos pelo preço de quatro euros e alguns cêntimos por metro quadrado.
Aos moradores e proprietários, foram apresentadas as características de "projecto amigo do ambiente", gerador de emprego e de desenvolvimento económico bem como um espaço de recreio e lazer, serviços e centros comerciais, postos de abastecimento, restauração, hotel/residencial, creches, quiosques, serviços bancários, além de serviços comuns de segurança e espaços verdes.
Durante a apresentação do projecto David Catarino assinalou "não vale a pena pensar que se vai mexer em tudo ao mesmo tempo porque era um rio de dinheiro" estando o projecto definido em quatro fases desconhecendo-se o timing de cada uma, bem como a data apontada para conclusão do investimento.
No projecto definido para esta zona paralela à auto-estrada e que vai ficar a 1,5 quilómetros da povoação, será respeitado o licenciamento de armazéns, já efectuado em menos de dez casos, para aquela zona. "Houve um esforço para não colidir (os licenciamentos) com as ruas previstas", referiu o autarca.
David Catarino salientou que esta primeira fase envolve 70 proprietários, no total são perto de 200. "Não é uma operação fácil quando a propriedade é tão dividida", salientando o "interesse público" do projecto "já definido em PDM". Depois de haver plano de pormenor, "o ideal é que avance em concordância com as pessoas", salientou o autarca.
Aos proprietários assinalou que "podem vender ou entrar na sociedade". Quando "não houver acordo possível não pode ser por um que não concorde que o projecto cai" e é nessa altura que a expropriação se efectuará, "em nome do interesse público".
O parque a instalar em 175,4 hectares prevê a criação de 1922 postos de trabalho, num investimento global de 556 milhões de euros de investimento previsional, 86 milhões correspondem à parcela de investimento da sociedade gestora na infra-estruturação dos parques, e 470 milhões de euros à construção de pavilhões e edifícios edificados em parte pela própria sociedade gestora e pelas empresas a instalar.
Este projecto é uma iniciativa da Nersant – Associação Empresarial da Região de Santarém, do Grupo Lena e do Grupo Imocom, em parceria com as cinco câmaras municipais dos concelhos envolvidos no projecto.
Proximidade das populações
José Neves Martins foi o primeiro elemento do público a usar da palavra para assinalar que "se isto (projecto) é conceito de progresso, preferia continuar a viver na idade da pedra" por considerar que "vai desvirtuar o meio natural" e entendendo que "está a ser-nos impingindo um projecto megalómano".
Várias vozes se levantaram protestando e discordando não do projecto mas da localização do mesmo, pedindo a deslocalização para o outro lado da auto-estrada.
Muitos frisaram a pouca distância entre as localidades e o centro de negócios, meio quilómetroe tiveram a garantia de pouco ruído dada pelo presidente de Câmara, já que o trânsito se fará por uma circular, a construir fora do perímetro urbano com ligação a Boleiros, ao complexo desportivo na Eira da Pedra, à rotunda de ligação entre Fátima, na estrada para Torres Novas.
Sobre a localização do centro de negócios, "o PDM definiu este lado" em que a indústria prevista – defendeu Catarino – não é poluente, contemplando ainda "ruas largas, espaços verdes. È uma zona que temos que ter cuidado pois estamos junto a Fátima".
Luís André, por seu lado referiu que "a população de Boleiros não foi inicialmente consultada" e que a Câmara "projectos nos terrenos dos outros" frisando ainda que "a população de Boleiros vai ficar prejudicada pelo tráfego, pela vida".
Catarino argumentou que "não faz sentido pensar isto do outro lado", quer devido ao desnível do terreno, quer porque, no futuro "esperamos ter regularizada aquela situação da pista de aeródromo de Fátima".
Defesa do projecto
No final do debate, Natálio Reis defendeu que "a Junta de Freguesia apoia este projecto", uma "ideia arrojada" que "Deus queira que se torne realidade" e no qual "se joga o futuro desta terra e desta região".
Para o autarca além da criação de empregos, o facto de criar postos de trabalho de nível médio e superiores, bem como a taxa de ocupação ser apenas de 30 por cento salvaguardando que "há muita zona verde". Aos receios de proximidade da localidade, reage com o facto de próximo ser a zona comercial e dos armazéns ficarem mais perto da auto-estrada. Em relação ao possível ruído, "já ouviram o barulho da A1? Talvez provoque mais".
Para o presidente da Assembleia de Freguesia, uma das questões que havia motivado essa sessão de esclarecimentos, a questão do preço, não foi aflorado. Quanto ao projecto, apelidado de megalómano "temos a maior praça do país, a maior construção com a nova igreja, porque não ter o maior parque de negócios?".
Depois da reunião, na rua, os populares voltaram a defender a localização do parque do outro lado da auto-estrada. Até os que dizem ter terrenos de um lado e de outro, prefeririam que ficasse instalado do outro lado da A1.
Recorde-se que na Assembleia de freguesia de Fátima, em Dezembro de 2006, que estiveram presentes mais de vinte proprietários e que foi pedida esta reunião de esclarecimento, o presidente da Junta de Freguesia de Fátima havia levado o assunto à Assembleia Municipal de Ourém onde frisou não ter obtido grandes esclarecimentos sobre o assunto por parte do presidente da Câmara.

O abaixo-assinado

Quinhentos moradores da localidade de Boleiros, Maxieira, valinho de Fátima e Chã fizeram chegar às mãos do presidente da Câmara, em 30 de Setembro de 2005, um abaixo assinado onde expressam as "preocupações que sentem e apresentam algumas sugestões para tentar minorar os inconvenientes da ocupação das suas propriedades agrícolas e florestais, bem como da impossibilidade de crescimento dos lugares onde habitam".
Este abaixo assinado ao qual aludiu um dos moradores para mostrar o descontentamento do povo, não obteve nenhuma reacção por parte do presidente de Câmara, no período de debate.
Na carta enviada com as assinaturas é lembrado que " ficaremos sem espaço para a agricultura, sem floresta e sem local para eventuais construções". A Associação de moradores de Boleiros apela ainda "bom senso" para "aceitar a deslocalização da dita zona industrial de Fátima, afastando-a para o mais alto ponto da serra e desta forma passando para o outro lado da auto-estrada onde já existem certas empresas instaladas. Esta opção seria, de facto, a melhor para todos".
No site da Fatiparques, onde estão incluídos os outros centros de negócios do distrito de Santarém e que contempla pólos em Torres Novas, Rio Maior, Cartaxo e Santarém.
Além de informações sobre a localização e planta do projecto e executar salienta-se que "o projecto Parque de Negócios de Ourém/Fátima, contempla a criação de infra-estruturas, num terreno, de modo a poder receber e servir tecnicamente um loteamento de superior qualidade urbanística".
Em relação ao plano de pormenor para esta zona, este encontra-se na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, a aguardar a emissão de parecer, onde, segundo consta "foi entregue, no passado dia 20 de Junho, o estudo de avaliação acústica". Esta Comissão deu início "de imediato às consultas internas, com vista à emissão de parecer relativo a esta versão".

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